Divagar. v.i. Andar errante, percorrer ao acaso. Fig. Discorrer saindo do assunto. Delirar.
A vida vai acontecendo quase sem querer. Sem querer você vê o mundo pela
primeira vez; berrando, gritando em vão para voltar, mas não adianta, o jeito é
disfarçar um sorriso ou continuar chorando pelo primeiro aconchego perdido.
Por mais que seja verdade que não há fórmulas prontas, moldes acabados, a nossa
experiência sempre tem pontos em comuns, leves nuances que vão fazendo o Ser,
doravante conhecido como Humano; esbarrar com seus semelhantes e construir
laços. Laços de amor, de ódio, indiferença, toda sorte de bem querença e
azedume cerca a convivência com o outro, este planeta distante que o nosso
desejo persegue.
Dificilmente conseguimos reagir como deveríamos a certas situações, viver é um
pouco disto: fazer alguns cálculos, traçar alguns planos e depois ver a teoria
confrontar a realidade e termos que aos poucos reconhecer, embora com algum
desalento, que a vida simplesmente será uma empreitada duvidosa a qual nos
entregamos sempre agarrados nalguma esperança, porque viver é indubitavelmente
um ato de esperança.
Alguns de nós, Humanos, são práticos e por isso constroem prédios, negociam na
bolsa, abrigam-se das tempestades, fogem da incerteza. Outros são loucos,
ébrios, músicos, poetas e se entregam a toda sorte de desejo, mergulhando em
amores vadios e amargando as dores em plena praça pública, envergonhando as suas
próprias figuras e maculando os bons nomes de família. Destes inveterados não
consigo prosseguir falando; pois deles sou irmão de sangue, carne, vinho e
poesia.
Viver é um pouco como este texto, esquadrinhar linhas, escolher palavras,
nem sempre com muita prudência, tentar articular algum sentido, e na maioria
das vezes permanecer atônito num emaranhado de ecos. Viver é quase como
escrever: uma contínua preparação para o ponto final.