Profanação

Noite! Clama por noite o Pecador! Negro leopardo ataca a vida com suas presas escorrendo ódio e desejo. Sangra de dor e remorso a besta que soturna vigia na densa escuridão, dividindo o ruidoso barulho do silêncio noturno, carregando ao lado de seus símiles a chaga aberta da mundaneidade.

Salta balançando seu vestido, esvoaçante! Esvoaçante! Salta um bicho andrógeno meio homem, meio mulher, olhar de serpente.  O bicho se esgueira na noite cinzenta, arrastando corrente, comendo gente! Comendo gente! É o inferno na terra, fogo consumidor!

Corre uma multidão de anões gritando versos apócrifos, deitam-se nas praças e emprestam ao ar odor de sexos! Dão à luz cachorros negros como a escuridão, nascidos, devoram-nos! Profanação! Profanação! Profanação!

Toca o sino da torre, é morte que ele proclama!

A noite se finda.

 Feras! Guardai as vossas presas!

  

O Sol levanta cobrindo de dourado os pecados dos homens.

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Bom dia, Leitor!

Um Sábio Conselho

Menino pare de olhar as estrelas! Chega de admirar a vida com esse olhar comprido e meio perdido debruçado sobre a janela, se não você acaba virando poeta, e Poesia não é coisa em que se fie.

 

Terra de Chafarizes

                                                                                

                                                                                                          Aos nossos governantes,

Senhores! Senhoras! Membros da sociedade civil! É com muito gáudio que venho nesta tarde alvissareira de domingo, diante de meus correligionários e eleitores informar-lhes que apesar de toda perseguição, toda calúnia, todo viço de maldade, conseguimos hoje inaugurar o nosso mais novo chafariz. Esta bela peça de mármore que enriquece esta terra, e que foi alvo de ataques inimagináveis da oposição, os quais ousaram dizer que havia assuntos muito mais importantes em pauta que o nosso magnifico chafariz. Este monumento que com o apoio de vocês construí é o símbolo inequívoco de nossa administração, é a prova maior do triunfo de nossa democracia! Viva a nossa cidade! Viva o povo! Viva esta terra sem memória feita de chafarizes e promessas!

Canção Embriagada

                                                                                   

                                                                                               
                                                                                             Aos poetas do cotidiano, os apaixonad@s.
 

Eu me vou musa, vadiar nas ruas, andar trôpego e teu nome na boca, gritando: “Dio, come ti amo”. Eu vou acompanhando os gatos vadios deixando esta tua alucinação cegar minhas vistas de tanto bem querer. E, se por acaso eu acordar as moças e senhoras de família, vou despudorado oferecer-lhes a rosa da minha lapela e dizer que perdoe este coração que te ama, e fim.

Obviedades/1

Cada bicho humano é um universo. Somos coisa imensamente imaginativa, inventamos a realidade ao nosso redor. Alguns de nós são ciência e experimentação. Outros vivem de acasos e coincidências, para estes viver é uma surpresa quotidiana; Há os que montam o indomável destino e cavalgam no seu dorso vida adentro. Há ainda os poetas, estes são... Os poetas são poetas, ora pílulas!