sexta-feira, 29 de julho de 2011

Da Perfeição





Lá, onde vivem os anjos e o Criador,

não há Guerra,

não há fome,

nem dúvida,

nem medo,

nem morte.

Na Perfeição só existe

música e silêncio.






Carinhosamente,

terça-feira, 26 de julho de 2011

Feita De Sonhos E Magia







                                       Para Niedja Amazonas, por ser uma amiga mais doce que uma barra de Toblerone



Toda feita de sorrisos, de sonhos e de alegria. Menina-mulher de encantos e contradições. Quantas faces tem uma mulher? Quantos mistérios se escondem em suas madeixas?

Ela gosta de lilás, de sapatos, de Audrey e do Sport. Não mede palavras, não economiza carinho e nem dinheiro. A gente passa a vida toda tentando ser coerente, centrado. Ela não!  Ela é carnaval, feriado, domingo na praia, presença iluminada, iluminadora!

Cheia de faces e de fases, apaixonada pelo espelho e pela vida. Não vive de metades nem de meios. Ela transborda, exagera, ri sem parar. Um riso simples, doce, inocente.

Repleta de manias, surpreendente em cada movimento, uma princesa do século XXI. Uma princesa de jeans, blush e melissa. É preciso muita maturidade para mudar e continuar a mesma.

Leonina convicta quer tudo e de uma vez só. A vida deve ser essa grande pista de dança em que ela desliza e encanta.  Apressada, desligada, curiosa, feliz.  Menina-mulher feita de sonhos e magia!



Carinhosamente,

domingo, 24 de julho de 2011

Cigarros De Adeus









“Now how can he have her heart
When it got stole
So he tries to pacify her
'Cuz what's inside her never dies”
Amy Winehouse /Robert Poindexter / Richard Poindexter / John Harrison

                                                                             


                                                                               À memória de Amy Winehouse

-        -  Me dá mais um cigarro!
-      
  -       -Outro?
-     
  -        -   Tô precisando relaxar!
-       

As malas já estavam todas arrumadas, hoje ela partiria definitivamente. No começo ela acreditou que daria certo, aliás, ela tentou acreditar que dessa vez ela fincaria raízes. Ele a idolatrava, o que ela poderia desejar mais?

- Eu sempre quis conhecer Machu Picchu!

- Doideira, fuma outro ai!

- Lá tem umas montanhas altas, tão altas...

Ela não sabia o exato motivo, mas tinha alguma coisa que a angustiava, não era uma angustia recente, toda a sua vida ela fora movida por sua angustia, por essa constante sensação de vazio. Às vezes para não sucumbir, para não enlouquecer de vez, ela tinha que escrever escrever e cantar loucamente. Os vizinhos não gostavam da sua voz, como também não gostavam de suas roupas e de seu jeito. Se ela fechasse os olhos podia lembrar claramente os olhares de reprovação, mas ela também podia recordar de como aquele vestido lhe caía bem e de como ele representava uma dor que nunca passava e que ainda não passou. Uma dor que ela sabia que a acompanharia toda a vida, uma dor que a machucaria e que inspiraria suas melhores composições.

- Eu estou indo embora, hoje!

- Se você for eu me mato!

- De qualquer maneira eu estou indo.

Ela nunca ouvia ninguém, às vezes tentava fingir que levava a opinião alheia a serio, contudo conselhos davam-lhe sono. Depois de tantos anos não seria ele que a diria o que fazer ou para onde ir.

- você não me ama nem um pouquinho?

- Me passa outro cigarro

Amor. Ela não sabia ao certo o que isso significava, portanto como ela nunca cultivou o hábito de mentir preferiu não responder. Seria o Amor aquele sentimento que a fazia viver nessa agonia? Ela poderia apostar que não. Liberdade! Isso sim combinava mais com ela, a liberdade desses gatos vadios que perambulam sem destino. Viver sem ponto de chegada, sua vida era um blues feito de dor, agonia e luz que ela havia decidido tocar até o último instante.

- Como são altas as montanhas de Machu Picchu! Altas... Tão altas...




Saudosamente,

domingo, 17 de julho de 2011

Visão De Domingo





Às cinco horas da manhã, abrem-se os olhos da minha cidade.  A velha senhora de camisola azul celeste apruma-se em sua bengala, respira fundo e começa sua rotina matinal tantas vezes repetida: o mesmo café preto, a mesma chaleira, o mesmo caminho até a velha padaria que só não é tão velha como o seu andar manco e cansado.

Os boias-frias com um olhar cheio de esperança e com uma gana que vibra nos seus olhos rumam para o árduo serviço e as minhas vizinhas abrem as suas janelas para as cordialidades matinais. Perto de minha casa dois vira latas dividem os despojos da noite de vadiagem. As moças saem ao terreiro para varrer a poeira trazida de longes glebas pelo vento. O Sol ilumina a torre da igreja, ilumina a minha varanda e aos poucos tudo vai sendo tomado pela claridade do dia. Magnifico espetáculo! O desfilar de homens, animais e carroças.

Bendigo os passarinhos que cantam alegremente e bendigo a vida que se descortina no meu Sertão. Bendigo este céu azul e claro e bendigo o excelso criador assentado acima deste formoso azul. Bendigo o balanço das árvores frondosas e verdes nesta manhã. Bendigo sem parar esta paisagem banhada de luz e neblina.

Minha terra é agreste, suas ruas são breves e antigas. A maioria das casas guarda uma decoração tosca e envelhecida, algumas outras são grandes, ricas e imponentes. O centro da cidade tem um mercado velho, algumas poucas ruas principais, algumas praças e um povo digno dos mais notáveis romances, contos e elegias. Muito cedo saí de minha cidade, mas levo-a dentro de mim como um sinal, Ela está no meu jeito de agir de falar e de ver o mundo.

O sertão é um mistério profundo, o sertanejo é o guardador deste segredo, aliás, o sertanejo é o próprio segredo. Eu esfrego os olhos e miro a paisagem, lembro-me de Drummond e sussurro: “Êta vida besta, meu Deus!”.


Carinhosamente,

domingo, 10 de julho de 2011

Garota Rock'n'roll








How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?

                                                                                            ( Para ler ao som de rolling stones)




Ela definitivamente não tinha mais nada, ou quase nada, ainda tinha uma camisa velha do rolling stones que usava diariamente como se fosse uma tatuagem, uma marca de pele. Ela ainda tinha uma dor, um vazio imenso que preenchia todos os espaços, todos os lugares. Ela anda pela cidade e só ver uma imensidão de concreto e de rostos sem expressão que não lhe dizem nada, absolutamente nada. Por vezes tinha a impressão que não pertencia aquele lugar, uma cidade hostil cheia de luxo, arranha-céus, cinza e fome. Se ela olhasse ao redor veria claramente muitos com fome de poder e muitos outros com fome de pão. Ela não conhecia a fome, onde ela cresceu só havia muros altos, conversíveis e grama verde, tão verde.  Mas hoje esse passado parece tão distante, o deslumbramento e a inocência se foram. A mochila que já perde a cor de tão gasta, parece não cansar de lhe lembrar que ela estava longe de casa, aliás, casa? Ela nunca se sentiu em casa em lugar nenhum. Todos eram estranhos, ela não pertencia aos seus pais, sequer se parecia com eles, ela não parecia com suas amigas não se parecia com esta cidade, todo o mundo era um amontado de rostos, braços, pernas. Ela não via sentido nenhum naquilo tudo. Que sentido tem viver? Ela não sabia, mas estava disposta a descobrir. A partir de agora iria para onde suas pernas a levassem, se ela não pertencia a nenhum lugar, estaria em todos seria de todos. Por mais que dissessem que ela era rebelde, que o mundo era perigoso e que ela não devia jamais ultrapassar o limite da rua, dos muros cobertos de ouro e solidão. Ela ousou ultrapassar, e ultrapassar seus limites foi como um mergulho profundo no vazio, foi uma queda livre da qual ela não sabia se ia sobreviver, ela sequer sabia se havia sentido em ultrapassar, mas ela não queria, não podia ficar parada vendo os carros passarem a vida passar e ela parada, alheia a si mesma.  Ela estava decidida a arrancar suas amarras a destruir suas dores. Agora a liberdade não era mais um sonho, a liberdade seria de agora em diante essa faixa azul do horizonte que ela ia perseguir todos os dias. Ela não tinha mais ilusões, não esperava mais do que tinha, e ela agora tinha muito: uma blusa, uma mochila velha, um all star e um mundo todo, um mundo novo, um mundo louco de pedra. A felicidade ia ser as pessoas feitas de sonhos e rock and roll que ela ia conhecer em cada cidade, em cada parada, carona após carona, nessa estrada em que nunca se sabe se está começo no meio ou no fim, nessa estrada que alguns chamam de vida. 



 Carinhosamente,

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Em Frente A Porta








- É o fim. Repetiu para si mesmo. Não há mais alternativas, não há mais como fingir que ele não vê que não sente que não mudou. Ele mudou, Ela mudou.  As fotos não mudaram o cartão de aniversário continua o mesmo: Branco com alguns corações vermelhos e dentro uma poesia de Neruda. 

- Eu tenho que tocar a campainha e acabar logo com isso! Ele esta em frente ao portão, faz alguns minutos, mas não consegue se mover, falar, agir! Como isto foi acontecer?  Uma sensação de vazio tomou seu ser. Olhou em volta, era noite alta, meia-noite talvez, ele não sabe ao certo.  Nunca gostou dessa rua, os moradores sempre o olharam atravessado, como se ele fosse um intruso, um estranho. “– E você, o que você acha de mim? Você ao menos pensa algo sobre mim?”

Ele sempre foi um homem fechado. Nunca gostou de sair à noite, não tinha muitos amigos. No trabalho era pontual, ordeiro, nunca falou mais que o necessário. Ele nunca havia pensado no amor, Nunca havia esperado nada da vida. Se ela não tivesse aparecido ele certamente teria morrido como viveu: Calado, invisível, nulo. Assim como uma aparição, como um raio luminoso estronda e rompe com a escuridão, ela lhe apareceu. Morena, alta, maviosa no vestir e no falar. O homem que nunca tinha visto, sentido, sofrido, amado, enfim acordou de um sono de morte! Ele sorriu, Ela sorriu. Fez-se dia!  Um homem que a muito existia, começou a viver.

“- Você nunca foi minha, você achava que podia me enganar, mas seus olhos me diziam, eles me revelavam, mas eu me ceguei, propositadamente, Eu só conseguia ver seu rosto seu corpo sua pele.” Ele dizia: - Eu te amo. E Ela sorria, Ela sorria porque não podia corresponder, sorria para de alguma forma tentar compensar, Ela sorria como um prêmio de consolação e como tal ao invés de diminuir a dor e a sensação de derrota, só conseguia ferir mais.

- Mentirosa! Mentirosa! Gritou, assustou-se. Ficou com medo de ela ter escutado. Pensou que ela poderia abrir a porta a qualquer momento e perguntar o que ele havia dito. Ele queria por um fim, porém não desta maneira. Ele é um adulto e pretende agir como tal, “- vou salvar o que me resta de dignidade!” pensou.  Olhou a porta, quantas vezes ele esteve assim como hoje em frente a esta porta, no entanto desta vez é diferente. Das outras vezes tudo era sorrisos, festas, caixa de bombom. Das outras vezes havia esperança, havia futuro, havia amor. Desta vez, o que resta? Resta um gosto amargo na boca, uma angustia tão grande que poderia ocupar toda esta rua, esta rua maldita, de pessoas que não o amavam, que não sorriam, que o encaravam como se ele fosse um forasteiro.

No inverno, ela sempre lhe trazia flores. Ele não gostava, afinal de contas, ele era o homem,  ele que devia dar flores para ela. E ainda mais, flores no inverno, e Lírios então?

 “- Lírios no inverno meu amor?

-Sim, são para você!

- Olha, eu não gosto de flores, acho que sou até alérgico. E mais, flores no inverno?

- Na primavera há flores aos borbotões, não tem graça. É na escassez, é quando falta tudo que precisamos de flores.” 

Esta acabando o outono, logo será inverno. “-se hoje é o fim, quem me trará flores?” Ele estava todo envolvido nela, como numa espécie de sortilégio, que o nublava todo. Se ele fechasse os olhos poderia vê-la dançando, enfeitiçando- o com suas curvas, com seu cheiro. O corpo dela, ele já havia possuído, sua pele, muitas vezes ele foi senhor daquele corpo. porém ela nunca se entregou por completo, havia alguma coisa que não se subjugava, alguma coisa que não se deixava seduzir por ele. Ela era todo mistério, ela era um animal selvagem que não se deixava domar. Mas ele não queria domá-la. Ele queria fundir-se a ela, Desesperadamente se tornar um único ser com ela. “-  É o fim, seu tolo”, sussurrou.

Ele tocou a campainha. Não pôde evitar sentir um suor frio, sentir as pernas tremerem, as forças se esvaírem.  Ele tinha tudo em mente, não importa quantas vezes ela dissesse que o amava que ele estava se precipitando, que tudo iria se resolver, bastava que ele tivesse paciência. “- Estou cansado de suas desculpas” Ela sempre sabia como convencê-lo, ela sempre sabia como mentir.

Ele sentiu a porta abrir, não conseguiu resistir, teve que fechar os olhos por um instante, fingir que aquilo não estava acontecendo que não era com ele. Abriu os olhos, lá estava ela! Linda, Linda, Linda, linda, linda e morena. Ela, sem pensar, jogou-se nos seus braços, beijou-lhe longamente.

- Meu amor, estava pensando em você, estou feliz que você tenha vindo.

- Pensando em mim? O que você estava pensando exatamente?

- Eu estava pensando em você, já disse.

- Sei, entendo.

Ele pensou: “o que dizer? Por que ela me olha desse jeito? Por que continuava fingindo? Tudo seria mais fácil se ela simplesmente parasse de atuar e colocasse um fim nisso tudo”.

- Gostou do meu vestido?

-Sim, é bonito.

- Você parece angustiado?  O que esta acontecendo?

Mais uma vez ela atirou-se nos seus braços, ele sentiu o cheiro dela, não conseguiu mais pensar. Sem muito pensar, ele disse:

- Eu te amo! Veja o que tenho atrás das mãos!

- Lírios?

- Sim, veja! Trouxe-te lírios, eu sou teu homem, é outono, as folhas estão secas, mas eu te trouxe lírios!

- São lindos!

- Eu te amo e te amar me dói, me mata a cada dia, mas eu vou te amar até o fim!




Carinhosamente,