terça-feira, 27 de setembro de 2011

Irremediável






Hoje, eu queria escrever um poema de amor. Mas as palavras não saem à língua, não criam forma. Tem muito asco na minha voz, tem muita fúria nas minhas veias.

Hoje, eu queria falar das flores, daquelas tais que ficavam suspensas nos jardins da outrora grande Babilônia. Queria falar das flores que dei pra ela e que foram atiradas ao chão, queria falar daquilo que murchou, que feneceu.

Hoje, eu queria escrever um poema de amor. Mas só consigo ver as horas escorrendo, o dia morrendo lentamente por trás da minha casa, as mentiras dos homens, o Sofrimento, a Dor.

Hoje, eu queria escrever um poema de amor, de rosas, de balanço, de enamorados, de lua cheia, de carnaval, de Lúcia, de Maria, de Estela. No entanto só me ocorre um lamento triste de inverno, um lamento por todos os versos que não escrevi, por todas as tardes de Sol que perdi.

Hoje, eu quereria dar ao mundo o mais belo poema de amor, que unisse os homens. Porém tem uma nuvem de morte, tem um gosto de sangue no ar que eu faço tudo por abafar, por esquecer. Mas só os mortos esquecem. Eu estou vivo, irremediavelmente vivo.



Carinhosamente,

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