Um texto para te esquecer,
Vai embora, parte de uma vez sem
remorsos e sem lembranças. Sai e leva contigo todas estas noites mal dormidas,
estas olheiras que não me deixam reconhecer meu rosto, leva contigo até essas
ilusões que eu desenhei no vento, e como brisa que eram cessaram na primeira
tarde de Sol escaldante. Pode levar
tudo, a imagem dos teus olhos verdes que quase sem querer eu não paro de olhar,
de procurar no meio da multidão, e quando encontro não me olham, e se me olham
eu não sei se eles conversam ou simplesmente emudecem. E se falam que dizem
para mim?
Vai embora, põe na mochila todo
este nada que construímos todo este devaneio que a minha teimosia insistiu em
forjar. Não te preocupas, que o fardo que tu levas é leve, nada pesa esta minha
neurastenia. A única injustiça que cometo é que tu o carregas sem saber, não
pedi tua permissão. Se por ventura ou desgraça descobrires por fim esta minha
tolice, não me culpe, nem pragueje. Se tu buscas um culpado, então culpa teus
olhos, teus dentes, teu rosto, tua boca e por fim todo teu corpo, que como
ardilosa tentação foi me chamando, e eu fui entrando, fogueira adentro só pelo
prazer de sentir as labaredas em meu corpo.
Coisa louca são as emoções, elas
brincam com os homens constantemente, elevando-os às alturas para contemplar a
beleza da eternidade, e depois lançam-nos
ao chão; sem emoções e sem vida jaz o corpo da pobre criatura na terra.
Agora, deixo-te ficar nestas
linhas, como um blues triste e demorado. Como uma despedida do que nunca
existiu.
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