domingo, 17 de julho de 2011

Visão De Domingo





Às cinco horas da manhã, abrem-se os olhos da minha cidade.  A velha senhora de camisola azul celeste apruma-se em sua bengala, respira fundo e começa sua rotina matinal tantas vezes repetida: o mesmo café preto, a mesma chaleira, o mesmo caminho até a velha padaria que só não é tão velha como o seu andar manco e cansado.

Os boias-frias com um olhar cheio de esperança e com uma gana que vibra nos seus olhos rumam para o árduo serviço e as minhas vizinhas abrem as suas janelas para as cordialidades matinais. Perto de minha casa dois vira latas dividem os despojos da noite de vadiagem. As moças saem ao terreiro para varrer a poeira trazida de longes glebas pelo vento. O Sol ilumina a torre da igreja, ilumina a minha varanda e aos poucos tudo vai sendo tomado pela claridade do dia. Magnifico espetáculo! O desfilar de homens, animais e carroças.

Bendigo os passarinhos que cantam alegremente e bendigo a vida que se descortina no meu Sertão. Bendigo este céu azul e claro e bendigo o excelso criador assentado acima deste formoso azul. Bendigo o balanço das árvores frondosas e verdes nesta manhã. Bendigo sem parar esta paisagem banhada de luz e neblina.

Minha terra é agreste, suas ruas são breves e antigas. A maioria das casas guarda uma decoração tosca e envelhecida, algumas outras são grandes, ricas e imponentes. O centro da cidade tem um mercado velho, algumas poucas ruas principais, algumas praças e um povo digno dos mais notáveis romances, contos e elegias. Muito cedo saí de minha cidade, mas levo-a dentro de mim como um sinal, Ela está no meu jeito de agir de falar e de ver o mundo.

O sertão é um mistério profundo, o sertanejo é o guardador deste segredo, aliás, o sertanejo é o próprio segredo. Eu esfrego os olhos e miro a paisagem, lembro-me de Drummond e sussurro: “Êta vida besta, meu Deus!”.


Carinhosamente,

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