quarta-feira, 6 de julho de 2011

Em Frente A Porta








- É o fim. Repetiu para si mesmo. Não há mais alternativas, não há mais como fingir que ele não vê que não sente que não mudou. Ele mudou, Ela mudou.  As fotos não mudaram o cartão de aniversário continua o mesmo: Branco com alguns corações vermelhos e dentro uma poesia de Neruda. 

- Eu tenho que tocar a campainha e acabar logo com isso! Ele esta em frente ao portão, faz alguns minutos, mas não consegue se mover, falar, agir! Como isto foi acontecer?  Uma sensação de vazio tomou seu ser. Olhou em volta, era noite alta, meia-noite talvez, ele não sabe ao certo.  Nunca gostou dessa rua, os moradores sempre o olharam atravessado, como se ele fosse um intruso, um estranho. “– E você, o que você acha de mim? Você ao menos pensa algo sobre mim?”

Ele sempre foi um homem fechado. Nunca gostou de sair à noite, não tinha muitos amigos. No trabalho era pontual, ordeiro, nunca falou mais que o necessário. Ele nunca havia pensado no amor, Nunca havia esperado nada da vida. Se ela não tivesse aparecido ele certamente teria morrido como viveu: Calado, invisível, nulo. Assim como uma aparição, como um raio luminoso estronda e rompe com a escuridão, ela lhe apareceu. Morena, alta, maviosa no vestir e no falar. O homem que nunca tinha visto, sentido, sofrido, amado, enfim acordou de um sono de morte! Ele sorriu, Ela sorriu. Fez-se dia!  Um homem que a muito existia, começou a viver.

“- Você nunca foi minha, você achava que podia me enganar, mas seus olhos me diziam, eles me revelavam, mas eu me ceguei, propositadamente, Eu só conseguia ver seu rosto seu corpo sua pele.” Ele dizia: - Eu te amo. E Ela sorria, Ela sorria porque não podia corresponder, sorria para de alguma forma tentar compensar, Ela sorria como um prêmio de consolação e como tal ao invés de diminuir a dor e a sensação de derrota, só conseguia ferir mais.

- Mentirosa! Mentirosa! Gritou, assustou-se. Ficou com medo de ela ter escutado. Pensou que ela poderia abrir a porta a qualquer momento e perguntar o que ele havia dito. Ele queria por um fim, porém não desta maneira. Ele é um adulto e pretende agir como tal, “- vou salvar o que me resta de dignidade!” pensou.  Olhou a porta, quantas vezes ele esteve assim como hoje em frente a esta porta, no entanto desta vez é diferente. Das outras vezes tudo era sorrisos, festas, caixa de bombom. Das outras vezes havia esperança, havia futuro, havia amor. Desta vez, o que resta? Resta um gosto amargo na boca, uma angustia tão grande que poderia ocupar toda esta rua, esta rua maldita, de pessoas que não o amavam, que não sorriam, que o encaravam como se ele fosse um forasteiro.

No inverno, ela sempre lhe trazia flores. Ele não gostava, afinal de contas, ele era o homem,  ele que devia dar flores para ela. E ainda mais, flores no inverno, e Lírios então?

 “- Lírios no inverno meu amor?

-Sim, são para você!

- Olha, eu não gosto de flores, acho que sou até alérgico. E mais, flores no inverno?

- Na primavera há flores aos borbotões, não tem graça. É na escassez, é quando falta tudo que precisamos de flores.” 

Esta acabando o outono, logo será inverno. “-se hoje é o fim, quem me trará flores?” Ele estava todo envolvido nela, como numa espécie de sortilégio, que o nublava todo. Se ele fechasse os olhos poderia vê-la dançando, enfeitiçando- o com suas curvas, com seu cheiro. O corpo dela, ele já havia possuído, sua pele, muitas vezes ele foi senhor daquele corpo. porém ela nunca se entregou por completo, havia alguma coisa que não se subjugava, alguma coisa que não se deixava seduzir por ele. Ela era todo mistério, ela era um animal selvagem que não se deixava domar. Mas ele não queria domá-la. Ele queria fundir-se a ela, Desesperadamente se tornar um único ser com ela. “-  É o fim, seu tolo”, sussurrou.

Ele tocou a campainha. Não pôde evitar sentir um suor frio, sentir as pernas tremerem, as forças se esvaírem.  Ele tinha tudo em mente, não importa quantas vezes ela dissesse que o amava que ele estava se precipitando, que tudo iria se resolver, bastava que ele tivesse paciência. “- Estou cansado de suas desculpas” Ela sempre sabia como convencê-lo, ela sempre sabia como mentir.

Ele sentiu a porta abrir, não conseguiu resistir, teve que fechar os olhos por um instante, fingir que aquilo não estava acontecendo que não era com ele. Abriu os olhos, lá estava ela! Linda, Linda, Linda, linda, linda e morena. Ela, sem pensar, jogou-se nos seus braços, beijou-lhe longamente.

- Meu amor, estava pensando em você, estou feliz que você tenha vindo.

- Pensando em mim? O que você estava pensando exatamente?

- Eu estava pensando em você, já disse.

- Sei, entendo.

Ele pensou: “o que dizer? Por que ela me olha desse jeito? Por que continuava fingindo? Tudo seria mais fácil se ela simplesmente parasse de atuar e colocasse um fim nisso tudo”.

- Gostou do meu vestido?

-Sim, é bonito.

- Você parece angustiado?  O que esta acontecendo?

Mais uma vez ela atirou-se nos seus braços, ele sentiu o cheiro dela, não conseguiu mais pensar. Sem muito pensar, ele disse:

- Eu te amo! Veja o que tenho atrás das mãos!

- Lírios?

- Sim, veja! Trouxe-te lírios, eu sou teu homem, é outono, as folhas estão secas, mas eu te trouxe lírios!

- São lindos!

- Eu te amo e te amar me dói, me mata a cada dia, mas eu vou te amar até o fim!




Carinhosamente,

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